Moscas
Introdução
Em todas as explorações animais existem factores condicionantes da
produtividade, o que se traduz na variabilidade da rentabilidade das empresas pecuárias.
Estes factores variam consoante a localização geográfica, o clima, o
tipo de exploração, o maneio sanitário, os trabalhadores entre outros. É contudo indiscutível que
os factores relacionados com o parasitismo interno e externo assumem um papel preponderante no
rendimento dos animais.
Esta secção aborda especificamente as moscas, um sub-grupo dentro dos
parasitas externos (ectoparasitas).
Existem muitas espécies de moscas que podem afectar as explorações
animais, sendo que no nosso caso prevalecem dois tipos de dípteros considerados importantes para a
economia e produtividade para as explorações pecuárias: as moscas lambedoras e as moscas
chupadoras.
Moscas Lambedoras
As moscas lambedoras alimentam-se a partir secreções que encontram nas
aberturas naturais (boca, nariz, tetos), ao redor dos olhos e feridas, obtendo assim proteínas,
água e carbohidratos de que necessitam.
O díptero mais representativo e importante deste grupo é a Musca
domestica (mosca doméstica) que é possível encontrar não só em instalações pecuárias
como
também nos locais de habitação, constituindo um incómodo para
trabalhadores e habitantes.
É uma mosca com um enorme potencial biótico (até 10 gerações por ano)
e com um enorme potencial para transmitir bactérias patogénicas
como
Corynebacterium pyogenes, Sthaphylococus, Streptococus, e outros
agentes causadores de doenças, (responsáveis por mastites, por exemplo). A M. domestica deposita os
seus ovos sobre matéria orgânica em decomposição e o seu ciclo de vida dura 12 a 14 dias nas épocas
de verão.
Moscas chupadoras
As moscas chupadoras são dípteros com tamanho superior a 3 mm e
necessitam de ingerir sangue e ou fluidos corporais para completar o seu ciclo de vida.
Para
este efeito contam com duas peças bucais muito desenvolvidas que
penetram na pele dos animais. As duas espécies de moscas chupadoras de maior importância pela sua
capacidade hematófaga são a Stomoxys calcitrans (mosca dos estábulos) e a Haematobia irritans
(mosca dos cornos).
A mosca dos estábulos
(S. calcitrans)
Tem aproximadamente o tamanho de uma mosca comum, é de cor cinzenta e
mantêm a cabeça para cima quando poisa sobre o animal.
Reconhece-se facilmente por possuir uma proboscis proeminente e
pontiaguda e pela sua picadura particularmente dolorosa. Deposita os ovos sobre material vegetal em
decomposição e completa o ciclo de vida em 2 a 3 semanas, sendo mais curto em condições de calor e
humidade.
Como
o seu nome indica, a mosca dos estábulos encontra-se principalmente
nas instalações pecuárias, mas se estas se encontram muito perto de locais de habitação, é possível
encontrá-las dentro das casas. Sendo um díptero que se encontra em instalações, assume uma maior
importância em explorações leiteiras, uma vez que os animais estão permanentemente
estabulados.
A mosca dos estábulos pode chegar a causar sensibilidade nas patas
dianteiras, formando bolhas intradérmicas que podem rebentar, originando feridas. Esta mosca é um
vector mecânico de infecções
como
a diarreia viral bovina, a anemia infecciosa equina, o carbúnculo,
entre outras.
A mosca dos cornos
(H. irritans)
Permanece sobre os animais alimentando-se do seu sangue.
A sua posição característica é com a cabeça para baixo na mesma
direcção do pêlo com as asas entreabertas ou em posição delta. É a mais pequena das moscas
chupadoras e é frequente em locais de pastoreio, pelo que o seu controlo é mais difícil. Nos
animais pode encontrar-se em redor dos cornos, no dorso, nas omoplatas e na barriga, locais onde
pica e suga sangue cerca de 20 vezes por dia.
O comportamento da mosca dos cornos é muito particular, já que
permanece praticamente todo o tempo sobre o mesmo animal, dia e noite. Se é perturbada voa e
regressa ao mesmo hóspede, só o deixando para passar a outro animal ou colocar os seus ovos em
matéria fecal fresca.
O clima quente e húmido é propício ao seu desenvolvimento, podendo ser
encontradas a várias altitudes. As fêmeas depositam os seus ovos em matéria fecal fresca dos
bovinos e podem colocar aproximadamente 400 ovos no seu ciclo de vida, os quais passam a embriões
em 20 horas, a uma temperatura de 24 a 26ºC.
As larvas passam por 3 estádios até que se convertam em pupas, que
persistem de 6 a 8 dias. O estádio de pupa alcança a diapausa devido à exposição a temperaturas
relativamente baixas em zonas de clima temperado. Os adultos podem viver 7 a 14 dias, dependendo da
temperatura ambiente, tendo 6 a 7 gerações por ano.
A Haematobia irritans foi identificada
como
um vector de Dermatobia hominis, por transportar os seus ovos no
abdómen. Considera-se um factor de risco para infecções intramamárias, uma vez que pode funcionar
como portadora de Staphylococus spp. Foi também relacionada com a transmissão de outras patologias
infecciosas como a queratoconjuntivite, a brucelose, a clostridiose, a anaplasmose, o carbúnculo
bacteriano, a salmonelose, a estomatite vesicular, a febre aftosa, entre outras.
Importância e impacto económico
As moscas são uma fonte de incómodo aos bovinos, o que provoca
constantes movimentos de cabeça, cauda, coices, deslocamento em busca de sombra, intranquilidade,
entre outras que se traduzem num maior gasto energético e menor rendimento produtivo (leite, carne,
qualidade da pêlo, atraso no crescimento, etc).
As perdas económicas provocadas pela H. irritans não estão apenas
relacionadas com a sua acção hematófaga, mas também como referido anteriormente, pela transmissão
de agentes patogénicos, uma vez que as patas e trompa de estes dípteros transportam agentes como
Salmonella, Shigella, E.coli, Streptococcus agalactiae, Corynebacterium pyogenes e outros parasitas
como tripanossomas e céstodos.
A principal consequência do parasitismo por H. irritans é a perda de
peso (entre 8 a 22%). A perda de leite calcula-se perto de 9,26% para a S. calcitrans e 3,33% para
a M. domestica. De uma forma prática estima-se que a nível produtivo podem perder-se 10Kg de peso
vivo por animal/ano e aproximadamente 1 kg de leite/vaca/dia devido à acção parasitária das moscas
em bovinos.
Controlo
É conhecido que uma diminuição na quantidade de H. irritans aumenta o
consumo de alimento e o ganho de peso em vitelas desmamadas, contudo, o seu controlo é difícil uma
vez que se reproduz nas nitreiras, locais de difícil acesso.
O uso indiscriminado e errado de substâncias químicas originou
múltiplas resistências pelo que é importante realizar um controlo específico e bem estruturado
contra estes ectoparasitas.
Dentro das metodologias para o controlo de moscas, devem incluir
aspectos de carácter sanitário, maneio de estrume, lixo, feridas, rotação das nitrieiras, uso
correcto de insecticidas e controlo das mocas nas várias fases do seu desenvolvimento.
Os objectivos de um programa de controlo de moscas são:
- Minimizar o impacto económico
- Diminuir o stress dos animais
- Melhorar a qualidade do ambiente de trabalho
- Evitar a transmissão de agentes patogénicos e o despoletar de outras
patologias.
Existem diversos mecanismos para diminuir e controlar a quantidade de
moscas que existem numa exploração pecuária, podendo este controlo ser dividido em controlo
ambiental e controlo químico.
Controlo ambiental
Evitar a acumulação de matéria orgânica em decomposição;
Manter coberta ou eliminar a matéria orgânica em decomposição;
Mudar periodicamente as camas dos animais;
Definir um só local para o lixo não orgânico;
Separar os elementos recicláveis dos não recicláveis;
Controlo Químico
Utilizar produtos específicos para o controlo das diferentes fases do
ciclo de vida das moscas (adultas Vs larvas);
Garantir a formação e treino específico dos trabalhadores;
Realizar diluições correctas de acordo com a indicação do
produto;
Aplicar a quantidade recomendada da mistura;
Combinar o controlo sobre o animal com o controlo sobre as
instalações.
Sugestões para um controlo de sucesso e a longo prazo:
Não trate os animais até que exista uma infestação superior a 200
moscas/animal;
Utilize produtos específicos, não utilize produtos agrícolas, gasóleo
ou misturas caseiras;
Realize as diluições recomendadas;
Aplique a dosificação correcta;
Realize os tratamentos nas nitreiras (fossas), instalações e animais
simultaneamente (controlo integral), de outra forma os problemas de infestação não serão
controlados;
Solicite ao seu médico veterinário informação adicional.
A Bayer contra as moscas
A Divisão de Saúde Animal da Bayer oferece um programa integrado e
completo para o combate às moscas em explorações pecuárias, o qual se realiza tanto nos animais
como nas instalações.
Recomendações
Não se recomenda a utilização de produtos agrícolas ou misturas dos
mesmos com produtos veterinários para o controlo de moscas uma vez que incrementam a possibilidade
de desenvolvimento de resistências dos insectos.
Sempre que utilize pesticidas tenha presentes todas as medidas de
segurança necessárias, utilize protecções
como
óculos, luvas, máscara, fato de macaco e botas. Evite comer, fumar ou
beber durante a manipulação dos produtos. Tenha presentes os procedimentos de emergência para uma
fase inicial de alguma intoxicação, bem
como
o número do centro anti-venenos 808 250 143.
Produtos
QuickBayt
Baycidal
Sebacil
Bibliografia
Adams, Richard (editor), Farmacologia y terapêutica veterinária,
Editorial Acribia, Zaragoza, España, 2003, 2ª edición en español.
Cordero del campillo, M.; F.A. Rojo Vázquez, e tal., Parasitologia
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McGraw Hill
,
Madrid
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Radostitis, O., C. Gay, D. Blood y K. Hinchcliff, Medicina
veterinaria, tratado de las enfermedades del ganado bovino, ovino, porcino, caprino e equino,
McGraw Hill, Madrid, España, 2002, 9ª edición, Capítulo 27.